Agronegócio
Produtividade da soja deve cair para menos da metade no Estado
Apenas 20 municípios devem atingir a média prevista de 52,5 sacas por hectare; três deles são da região: Capão do Leão, Piratini e Santa Vitória
Carlos Queiroz -
Três cidades da Zona Sul integram a lista dos 20 municípios do Rio Grande do Sul em que a produtividade da soja tende a confirmar a projeção inicial para safra 2021/2022. Capão do Leão, Piratini e Santa Vitória do Palmar devem atingir, portanto, mais de 50 sacas por hectare. Já na grande maioria das regiões do Estado irá ocorrer, exatamente, o oposto: a estiagem alastra prejuízos e a produtividade média despenca. Não passa das 25 sacas por hectare. É a estimativa indicada em levantamento realizado pela Emater, que mantém contato direto com os milhares de produtores do território gaúcho.
A explicação para os resultados tão distintos é apenas um: "A diferença está exclusivamente nas chuvas", ressalta o diretor técnico da entidade em Porto Alegre, o engenheiro agrônomo Alencar Rugeri. E lembra que zonas tradicionalmente fortes no cultivo da soja, como a região Norte do Estado, são exatamente as que estão em uma condição hídrica pior. Daí a queda inevitável de produção nas lavouras, com plantas que não se desenvolveram e vagens com grãos miúdos e pouco peso.
Ao também mencionar as precipitações esparsas e localizadas como explicação para os diferentes cenários, o técnico do escritório regional da Emater em Pelotas, Evair Ehlert, aproveita a oportunidade para ressaltar que o manejo adequado, claro, também influencia nos bons resultados. "São as boas práticas de manejo do solo e da água, como por exemplo a adoção dos princípios do plantio direto: a descompactação do solo, a correção da acidez e fertilidade, rotação e sucessão de culturas e cultivos", destaca o engenheiro agrônomo. E lembra ainda da formação, mínima, de oito toneladas de palha - matéria seca - por hectare.
Média deve oscilar entre 50 e 55 sacas, por hectare
Está tudo anotado em caderninhos. O produtor Elmar Peter, 62, mantém controle rigoroso sobre todos os detalhes de cada safra:datas do cultivo e da colheita, volume de chuvas esmiuçado por meses e dias, produtividade ano a ano, custos de insumos como adubo e óleo diesel para o maquinário comparados à necessidade de sacas para cobrir os gastos. São heranças de organização deixadas pelo pai Waldemar. E são décadas de experiência. A família começou a plantar soja em 1978.
E o processo de qualificação segue. Nos últimos anos, Elmar Peter já realizou dois cursos de plantio direto e, periodicamente, participa de dias de campo para aprimorar conhecimentos e trocar informações. "Comecei a preparar a lavoura em julho. Preparar a terra cedo ajuda a guardar a umidade", ressalta o morador de Canto Grande, 3º distrito de Capão do Leão.
Os dados das chuvas dos últimos meses ajudam a entender por que o município é um dos poucos da região em que a estimativa é de produtividade acima das 50 sacas por hectare. Em janeiro, por exemplo, quando as temperaturas beiraram os 40ºC e castigaram os gaúchos, ali, nas redondezas, caíram 159 milímetros no intervalo de seis dias. Já em fevereiro foram 109 milímetros; pequenos alentos a períodos de escassez, como em dezembro quando choveram apenas 44 milímetros. "Foi terrível", conta.
Agora, em março, a precipitação voltou a se comportar de maneira variável, mesmo em áreas próximas. No dia 5, por exemplo, choveram dez, 20 e 40 milímetros em três propriedades, em um raio aproximado de sete quilômetros. São números que ajudam a entender as diferenças de produtividade.
E o balanço da última safra seguirá na história dos Peter. A média geral ficou em 72,9 sacas por hectare. "Nunca tinha colhido tanto", orgulha-se. E os investimentos vieram na carona, com cautela. As duas colheitadeiras foram vendidas e uma seminova, bem mais moderna, foi adquirida. O trator também é novo. "Esse tem mais tecnologia: piloto automático e GPS", afirma. E admira os 150 hectares de área - 40% arrendada - cultivados em longas linhas simétricas. "Antes, por mais que a gente tentasse, não ficava igualzinho, como tá agora", reforça.
E repassa ao caçula Gabriel, 21, o grande companheiro de empreitada, os ensinamentos para manter a vida financeira sob controle: "É preciso trabalhar com os pés no chão, sem muita dívida pra frente. Porque aí, quando dá as oportunidades boas, tem o dinheiro pra fazer as coisas à vista. Com o passo muito grande, o tombo pode ser grande".
Conheça os 20 municípios que devem ficar dentro da média
- Na Zona Sul:
Capão do Leão
Piratini
Santa Vitória do Palmar
- No restante do Estado:
Arambaré
Balneário Pinhal
Barão do Triunfo
Barra do Ribeiro
Cambará do Sul
Campestre da Serra
Cidreira
Coqueiro Baixo
Cotiporã
Glorinha
Guaíba
Palmares do Sul
Santo Antônio da Patrulha
Sentinela do Sul
Sertão
Sertão Santana
Tapes
Ideal são chuvas regulares ainda em março
Os produtores seguem atentos ao clima. O ideal é que as próximas duas semanas tenham cerca de 40 milímetros de chuvas. "Mas não pode chover todos os dias porque já começamos a colher. Depois, em abril, sem problemas se tiver pouco chuva", destaca Evair Ehlert.
Até o momento, 17 municípios da Zona Sul decretaram situação de emergência em decorrência da estiagem: Amaral Ferrador, Arroio do Padre, Arroio Grande, Candiota, Canguçu, Herval, Jaguarão, Morro Redondo, Pedras Altas, Pelotas, Pinheiro Machado, Piratini, Rio Grande, Santana Boa Vista, Santa Vitória do Palmar, São José do Norte e São Lourenço do Sul. Desse total, 13 obtiveram o decreto reconhecido pelo governo federal.
Veja o paralelo (*)
Rio Grande do Sul Área cultivada Produtividade Produção
(hectares) (por hectare) (em toneladas)
Estimativa inicial 6.328.092 3.151 quilos 19.940.407
equivalente a 52,5 sacas
Estimativa atual 6.314.490 1.511 quilos 9.541.841
equivalente a 25,1 sacas
Variação -,02% -52% -52,1%
(*) Fonte: Emater
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